CO141 — Feliz Ano Novo — Rubem Alves
Não haverá borboletas se a vida não passar por longas e silenciosas metamorfoses — Rubem Alves
Mais um fim de ano chegou. Tempo de reflexão, celebrações ou recolhimento. A agitação toma conta. Enquanto para alguns, apenas preocupações recorrentes. E tem quem encare tudo de forma normal.
Por força do nosso calendário, o fim do ano nos leva a refletir sobre um ciclo que se encerra e outro que inicia.
Rubem Alves escreve uma bela reflexão sobre esse novo ano e o que precisamos para ter um Feliz Ano Novo.
Para termos um Feliz Ano Novo temos que estar dispostos a “matar” o que fomos e nascer de novo em cada momento da vida. Está aí um grande desafio. Dos maiores, senão o maior de todos!
As cigarras passam a maior parte de suas vidas debaixo da terra, alimentando- se das raízes das árvores. Disseram-me que há certas espécies de cigarras que chegam a viver 15 anos debaixo da terra.
De repente, alguma coisa acontece, e surge dentro delas um impulso irresistível para mudar. Saem então dos seus túneis, sobem pelos troncos das árvores, arrebentam suas cascas, subterrâneas gaiolas, e se transformam em seres alados.
Se elas não abandonarem suas cascas não se transformarão em seres alados. Continuarão a ser seres subterrâneos. Nossos demônios são nossas cascas.
Abandonar as cascas é esquecer a forma subterrânea de ser. A grande transformação das cigarras acontece quando a morte se aproxima. É a proximidade da morte que lhes diz: ‘Chegou a hora de voar, cantar e fazer amor, para continuar a viver…’ Eu acho que a morte é o único poder capaz de nos trazer vida nova.
A consciência da morte nos força a sair de nossas sepulturas, nos dá asas, nos convida a voar e a amar.
Rubem Alves
Feliz ano novo, feliz vida nova
Episódios com Rubem Alves
CO12 — Natal e Rubem Alves
CO55 — Evolução e Transformação
Particularmente o texto de Rubem Alves que mais amo.